segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


CORAGEM


Francês: courage (de cœur , ‘coração’).
O latim “cor” também indica “ânimo”,
disposição, qualidade espiritual de bravura e tenacidade,
daí a palavra “coragem”

O frio provocado pelo ar condicionado da sala de audiência em contraste com a dureza das expressões dos réus gerava um clima tenso e mórbido. A jovem advogada de defesa com um olhar frenético e voz altiva, estabelecia a função de “advogada do Diabo”. A testemunha, como um pássaro sem asas, encolhida numa cadeira, balbuciava poucas palavras, buscando na sua pobreza vocabular exprimir suas verdades. O juiz, entre um termo técnico e outro, procurava traduzir suas perguntas à testemunha, que por sua vez, parecia convicta em sua razão.


Durante muitos anos o olhar duro e inquisidor das figuras políticas, Srª Vera Barros e Dr. Birão, causaram medo à população. A coragem dessa senhora (testemunha) com olhar humilde, tocou-me profundamente. Queixo erguido e respostas certeiras traziam à tona a lama do fazer-política de Vera Barros e Birão. Uma política “de três anos de fel e um ano de mel”. Uma política suja, do “toma lá dá cá”, do apadrinhamento, das promessas de emprego, “do dinheiro na mão”, “do prato de comida”, das promessas que não se cumprem, da simpatia forçada que os tornam quase membros da família; do abraço, do beijo no velhinho doente, da criança suja no colo. Nada contra os beijos e abraços, sinceros ou não, não irei entrar no mérito. Tudo contra a hipocrisia, o mau-caratismo e o descaramento da política “verabarrista” dos “três anos de fel e um ano de mel”. “Mainha aqui estão dois pratos de comida”, “vou dar-lhe um fogão”, mas quero o seu voto e de sua família. Chamar de mãe procurando, na intimidade, a confiança é uma grande estratégia, reconheço. Para o povo pobre do Marajó, a atenção dos politiqueiros, embora somente em épocas de eleição, significa voto certo. Para essa cidadã-testemunha, de vestes simples e sem nenhuma pintura na cara, essas atitudes não “colam” mais. Os três anos de fel estão cada vez mais amargos e o mel do período eleitoral não adoça mais a boca, devido a tantos anos de amargura.


Se Chaves é um município pobre, que praticamente não possui arrecadação de impostos por que há tantos interesses em “estar prefeito”? Compensam tantas despesas com honorários advocatícios, custas judiciais, incontáveis passagens aéreas, gastos assombrosos de campanha? O que leva um político a deixar sua casa na Capital, família e trabalho para querer “estar prefeito”? O bem do povo? O irrisório salário diante das numerosas despesas? Vender a própria dignidade e a da família (isso é público e notório) ofertando a esposa a outro para que a mesma pudesse candidatar-se paga o “estar-prefeito”? Que segredos escondem esse cargo, que os fazem lutar como aves de rapina diante de uma presa moribunda?


Ingênuo eu seria se não soubesse a resposta, e cúmplice me tornaria se não alarmasse essa vergonha, pois o que mais me espanta não é a corrupção, a falta de ética e a desmoralização da política e dos políticos, o que me assusta é o silêncio do povo.


A coragem para denunciar, enfrentando o mal de frente, demonstra que Chaves está acordando de um sono profundo. Quando Chaves despertar completamente, só tenho a desejá-la: “seja bem-vinda à vida. Brindemos juntos à coragem do sangue aruan que agora percorre suas veias”.

Um comentário:

Luíza Vasconcelos disse...

Parabéns pelo artigo e pela coragem de denunciar a corrupção que permeia nesse grupo político... faço minhas as suas palavras.