sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O FUTURO NÃO PODE CAIR EM MEIO AO VÃO


17 anos. Um rapaz calmo, que na escola era exemplo de companheirismo e educação. Aplicado nas suas atividades diárias e fiel ao seu canto direito da sala, onde sempre sentava ao lado do irmão. Durante o ano inteiro, nunca tive que chamá-lo a atenção. Sempre com as atividades prontas e com um sorriso bonito no rosto. Esse era Gessiton Ferreira.


Em meados do ano passado, Gessiton surpreendeu-me nas oficinas de teatro. Encarnou um personagem tão bem, que não tive dúvidas em dar-lhe o papel de um pescador bêbado. Senti em Gessiton, como nos demais jovens, uma vontade avassaladora pelo novo, pela arte, pela cultura, mas sobretudo, por aprender e se sentir útil. Numa cidade que nada oferece aos jovens, as oficinas de teatro foi um refúgio, uma fuga contra a apelação dos bares e bebidas, das noites enfadonhas e sem graça, da monotonia de Chaves. Gessiton destacou-se no teatro que logo dei-lhe um papel no filme “Sou Teu Maninho! Um Grito Marajoara”. No papel de um assaltante de barco, ele fez bonito e passou a mensagem do diretor. Passou uma noite inteira no set de gravações, entre “luz, câmera e ação”. Tenho certeza que ele não se arrependeu e viveu intensamente aquilo tudo. Nas gravações externas, feitas na praia de Ituá, quem está lá para nos receber com um belo sorriso no rosto? Gessiton. Ele nos ajudou muito naquele dia, provando que realmente tinha se encantado com a Arte do cinema e do teatro.


Ele gostava também de futebol, dos amigos, da família. Gostava de tudo que é bom e que trazia felicidade. Não gostava de brigas e tampouco confusão. Era sensato,humilde, honesto e plenamente dedicado a tudo que fazia. Possuía uma inocência, uma ingenuidade raramente vista nos jovens de hoje em dia. Era verdadeiramente um chavense.


Gessiton foi morto covardemente, por outro jovem. Afundou nas águas mansas do Arapixi e lá passou mais de 12 horas, a poucos metros da beira. Poucos arriscaram a mergulhar em busca de seu corpo e muitos se divertiam no salão, a alguns metros onde Gessiton afundou. Ninguém gritou? Ninguém parou a festa? Chavenses... um irmão afundou aqui!!! Nada... nada era mais importante que um copo de cerveja.


Um amigo, solidário e solitário, passou a noite ali velando o rio, entre chuva e frio, entre músicas e risadas que vinham da festa. No outro dia, pela manhã, o amigo pulava vez ou outra no rio. O corpo de Gessiton ainda não tinha sido encontrado e assim seguiu até a tarde. O pai, desesperado, chegou de barco a boca do rio, mas a maré estava seca. Num ato de coragem, andou mais de duas horas e chegando em Arapixi só disse: Encontraram meu filho?. Com a negativa desfaleceu, emocionado e exaurido.


Somente às 16h horas, num mergulho certeiro, o amigo o encontrou, no mesmo ponto onde havia caído, vítima de um golpe de pernamanca.
Todas as esperanças se foram. Gessiton morreu. A Festa acabou, pelo menos para os amigos e alguns chavenses. O corpo saiu do Arapixi às 17h e logo às 18h as pessoas se “emperiquitavam” e as 19h se embriagavam ao som do mais novo sucesso do melody.


Lamento pelo povo.


Honras a Gessiton, Deus conforte a família ...


Quem mais perdeu? Certamente foi Chaves. Pois Gessiton representava a nossa juventude, o futuro de nossa cidade.


Como bem disse Shakespeare “... o terreno do amanhã é incerto demais para os planos e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão”. Se Chaves tem algo a fazer em prol desses jovens que o faça agora. Em favor deles e em dívida de honra a Gessiton.